É possível ouvir e valorizar todas as vozes, e ter uma tomada de decisão coletiva mais inclusiva.
No último domingo, testemunhamos uma interação entre alguns meninos de 7 ou 8 anos que costumam brincar juntos na área comum do prédio onde moramos. Na tentativa de resolver um dilema, um deles propôs uma votação: “Quem quer jogar queimada levanta a mão!” Quatro das cinco crianças levantaram a mão. Em seguida solicitou: “Quem quer jogar futebol levanta a mão!” Apenas um menino levantou a mão. “Você perdeu. Vamos jogar queimada”, disse.
O menino que queria jogar futebol poderia ter ficado chateado, ter saído emburrado ou atrapalhado o jogo. Mas manteve a conexão, negociando uma forma que incluísse sua vontade e todos ficassem satisfeitos: “Tá bom, mas pode ser só 5 minutos e depois jogamos futebol?” As outras crianças concordaram: “Tá bom! Tá bom!” Jogaram os dois jogos.
Ficamos surpresos como essa simples interação foi uma excelente demonstração de inteligência emocional e relacional, de cooperação na resolução de conflitos e tomada de decisão participativa! Há vários anos apoiamos profissionais de diversas áreas a desenvolver essas mesmas habilidades por meio da Comunicação Não Violenta (CNV) e da Democracia Profunda. Ensinamos ferramentas valiosas que ajudam as pessoas a lembrar como fazer algo que muitas vezes já sabem, mas acabam esquecendo por conta da forma como foram educadas. Nossa socialização nos ensina a competir, a buscar o sucesso individual e nos leva a esquecer a importância da cooperação e da empatia na resolução de problemas.
No entanto, essas habilidades são cada vez mais valorizadas no mundo profissional, pois ajudam a construir relações mais saudáveis e produtivas. Somos chamados para apoiar, com a CNV, as pessoas a ouvir e expressar suas necessidades e sentimentos de maneira clara e respeitosa, sem julgamentos ou críticas. A partir da prática, elas vão desenvolvendo habilidades de escuta empática e expressão autêntica, que permitem criar um espaço de diálogo seguro e acolhedor, no qual todas as vozes podem ser ouvidas e valorizadas. Com isso, é possível construir relações mais saudáveis e harmoniosas, e resolver conflitos de forma pacífica e construtiva.
Com a Democracia Profunda, apoiamos grupos e equipes a desenvolver o diálogo e a deliberação, buscando encontrar soluções coletivas que levem em conta a diversidade de perspectivas e as necessidades do grupo. Em um mundo cada vez mais conectado e interdependente, é fundamental desenvolver habilidades sociais que nos permitam construir relações mais saudáveis e produtivas, tanto na esfera pessoal como na profissional. A CNV e a Democracia Profunda são abordagens que podem nos ajudar nessa jornada, nos ensinando a ouvir e valorizar todas as vozes, a cooperar na transformação de conflitos e a tomar decisões coletivas mais conscientes e inclusivas.
*Texto originalmente publicado na Revista Viva Saúde. Escrito por Sandra Caselato e Yuri Haasz.