Ao longo dos anos, milhares de pessoas vêm nos procurando para aprender Comunicação Não-Violenta (CNV), buscando soluções para desafios que enfrentam em suas vidas pessoais e profissionais. Quase sempre elas se surpreendem com o que encontram em nossos cursos: ao invés de soluções prontas, fórmulas ou técnicas rígidas, se deparam com um convite à mudança de percepção, visão de si, dos outros e do mundo, que acaba impactando todos os aspectos de suas vidas.
Já ouvimos muita gente falando que tentou “usar a CNV” e não funcionou. Ao escutar um pouco mais sobre o que houve, muitas vezes a pessoa relata que utilizou a Comunicação Não-Violenta para fazer com que alguém concordasse com ela, mudasse de ideia ou de comportamento. Nesses casos, a pessoa conta que empregou direitinho os elementos estruturais da CNV, em forma de técnica, mas se decepcionou ao ver que o outro não quis cooperar. Logo vemos que faltou algo que é fundamental na prática da CNV: a intenção em conectar-se não apenas com as próprias necessidades, mas também do outro, buscando soluções ganha-ganha, que sejam boas para todos e não apenas para uma das partes.
Comunicação Não-Violenta não é uma técnica de manipulação para convencer os outros a fazer o que queremos. Ela requer coragem para mergulharmos num campo desconhecido de vulnerabilidade e abertura sincera para o que ocorre mais profundamente conosco mesmos e com os outros, e encontrar novas possibilidades de conexão, acordos e soluções que contemplem a todos os envolvidos.
A intenção em buscar essa conexão verdadeira e acordos que sejam bons para todos são a primeira condição fundamental para a prática da CNV. Em seguida vem o que costuma se chamar de “técnica” ou passos da CNV, que é apenas um apoio para focar nossa atenção e nossa comunicação em pontos cruciais para criar empatia, que consiste em formas diferentes de focar em fatos observáveis, sentimentos, valores ou necessidades humanas universais e em co-criar soluções conjuntas, em vez de julgamentos e exigências.
É algo simples, porém nem sempre fácil de se fazer, pois estamos acostumados a uma cultura onde desde as relações de trabalho até relacionamentos afetivos e familiares estão presentes elementos de uma estrutura de sistemas de dominação e imposição de poder.
Então, a prática requer uma mudança de paradigma interna, na própria forma como cada um de nós se relaciona consigo mesmo: com autojulgamento ou autocompaixão.
Se vemos a nós mesmos e ao mundo do ponto de vista deste paradigma de dominação, impomos coisas que não nos fazem bem a nós mesmos e aos demais. Se conseguimos passar a enxergar a vida a partir de um paradigma de cooperação e empatia, nossa relação conosco mesmos e com os que estão em nosso entorno também se transforma.
Como dizia Marshall Rosenberg, criador da CNV, o objetivo da Comunicação Não Violenta é tornar a vida mais maravilhosa.
Texto de Sandra Caselato e Yuri Haasz publicado originalmente em sua coluna na revista Bons Fluídos