Precisamos resgatar a sabedoria interior, nossa conexão com a natureza e com nossa existência em sociedade.
Já reparou como as crianças são conectadas com o próprio corpo e com o que elas sentem? Tanto os desconfortos como as sensações agradáveis parecem estar mais à flor da pele, e elas têm mais espontaneidade ao demonstrar suas emoções sem muito filtro ou repressão. À medida que crescemos, vamos nos desconectando de nós mesmos, do nosso próprio corpo, dos nossos sentimentos e também das coisas que são importantes para nós. A forma como somos ensinados e culturalmente treinados ao longo da vida e a maneira como nossas sociedades se organizam contribuem muito para que isso aconteça.
Vamos aprendendo a obedecer às regras e a reprimir nossos desejos e necessidades mais profundas, fazendo aquilo que é esperado de nós, e não necessariamente o que nos faz felizes. Vamos muitas vezes nos deixando de lado em função dos papéis que “temos que” cumprir. Também aprendemos, na sociedade capitalista em que vivemos, que precisamos ser independentes, autossuficientes e melhores que os outros. Aprendemos a competir mais do que a cooperar. Com o tempo, tudo isso vai nos deixando deprimidos e estressados, cada vez mais esgotados.
Como diz Viviane Mosé, enfrentamos um esgotamento civilizatório e humano: “Vivemos uma exaustão ambiental em consequência de um modo predatório de lidar com os recursos naturais, vivemos uma exaustão econômica em função das imensas desigualdades sociais, do desemprego. E, por fim, enfrentamos a exaustão humana, ou melhor, a exaustão do modelo de ser humano que criamos, vivemos o ódio à vida, em forma de depressão, suicídio, terrorismo, feminicídio, racismo.”
Existimos numa civilização que desvaloriza e nega a vida, que tenta mais controlá-la, manipulá-la e enrijecê-la do que compreendê-la e ajudá-la a florescer. A vida é movimento, descoberta, instabilidade, incerteza, vulnerabilidade, e não aprendemos a lidar com isso. Nossa sociedade nos ensina a menosprezar e desvalorizar as emoções e os sentimentos, a reprimir o que temos de mais humano, aprendendo a atuar e interagir de maneira “desumana” com nós mesmos, entre nós e com a natureza.
Para reverter esse cenário catastrófico, precisamos resgatar nossa conexão com a vida nesses três âmbitos: com nossa vida interior, com nossa existência em sociedade e com a natureza e os seres vivos em nosso planeta. Precisamos aprender a resgatar nossa sabedoria interior e a nos reconectar com nosso próprio corpo, nossos sentimentos, nossas necessidades e nossos valores mais importantes, para viver a vida com mais sentido, energia e alegria. Precisamos transformar nossa vida em sociedade, recuperando a coletividade, a cooperação e a parceria, nos conscientizando de que somos interdependentes e precisamos uns dos outros. Precisamos resgatar nossa conexão com a natureza, para que a vida no planeta continue a ser viável.
*Texto originalmente publicado na Revista Viva Saúde. Escrito por Sandra Caselato.