Democracia Profunda

Você já teve algum pensamento, ideia ou vontade que, por algum motivo, reprime ou prefere deixar de lado?

Já percebeu que, da mesma forma, existem certas vozes e ideias que são rejeitadas e suprimidas pela sociedade?

Quando tentamos empurrar uma bola para o fundo da piscina, chega um momento em que ela pula para a superfície. O mesmo acontece com essas vozes marginalizadas: em algum momento elas vêm à tona. 

Isso acontece com aquilo que reprimimos, seja em nós mesmos, num grupo ou na sociedade. 

Descubra como a Democracia Profunda lida com essas “vozes reprimidas” e aproveita seu potencial

Diferente da democracia “clássica”, que foca na ordem da maioria, a Democracia Profunda sugere que todas as vozes, estados de percepção e estruturas de realidade são importantes e necessárias para a saúde e compreensão do processo completo do sistema, seja um indivíduo, um grupo ou uma organização. 

O conceito de Democracia Profunda foi desenvolvido pelo analista Junguiano e físico Arnold Mindell, criador da Psicologia Orientada por Processos (Process Oriented Psychology ou Process Work)

A Democracia Profunda pode ser considerada um paradigma e ao mesmo tempo uma metodologia. Ela é tanto uma atitude, que busca focar na percepção de todas as vozes (das centrais às marginais), quanto um princípio, que sugere que novos significados e informações aparecem quando todas as vozes e estruturas são ouvidas e se relacionam entre si.

Essa compreensão e atitude nos convida a darmos mais atenção ao que parecem ser sentimentos e eventos desimportantes, e nos darmos conta que eles podem muitas vezes trazer soluções inesperadas tanto para conflitos de grupo quanto conflitos internos.

A partir do trabalho de Mindell, os psicólogos Greg e Myrna Lewis desenvolveram uma metodologia de Democracia Profunda voltada para facilitação de grupos, tomada de decisões e resolução de conflitos, a fim de apoiar os processos de transição pós Apartheid na África do Sul.  

Enquanto a democracia majoritária tradicional permite que 51% de um grupo tome decisões pelos outros 49%, a Democracia Profunda reconhece a sabedoria de todos os pontos de vista e promove sua integração nas decisões, reduzindo então as resistências e conflitos.

Segundo Mindell, “a experiência da Democracia Profunda é como um processo de fluxo no qual todos os atores são necessários no palco da peça que estão assistindo”.

Enquanto a democracia convencional busca incluir todas as pessoas em um processo político ao dar o direito ao voto a todos, a Democracia Profunda vai além, estimulando um diálogo mais profundo e inclusivo, dando espaço para visões contrárias, tensões, sentimentos e estilos de comunicação. Este processo apoia a percepção do ranque relativo de poder e  privilégio, e as formas pelas quais tendem a marginalizar muitas visões, indivíduos e grupos. Trazer esta consciência à tona por meio do diálogo, permite ativar a inteligência coletiva de maneira a criar realidades mais inclusivas e diversas.

Texto de Sandra Caselato e Yuri Haasz publicado originalmente em sua coluna na revista Bons Fluídos

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