Nenhum de nós dois teve uma experiência muito agradável em nossa vida escolar. A obrigação em estudar assuntos que não nos interessavam fez do Yuri um “mau aluno” e da Sandra uma “boa aluna”. Apesar da diferença nas notas, nenhum de nós gostou da escola nem aprendeu coisas que consideramos significativas em nossas vidas. A escola nos ensinou principalmente a obedecer ordens ou a nos rebelar contra elas.
Gostaríamos de ter aprendido a nos conectar mais profundamente com nós mesmos, nossos sentimentos, necessidades e sonhos, ter conexões mais verdadeiras e significativas com nossos colegas, professores, comunidade ao redor e o mundo.
Gostaríamos também de ter estudado assuntos que nos interessam e, principalmente, receber apoio e liberdade para descobrir e investigar o que nos instiga e nos enche de vida.
Hoje ficamos felizes ao ver cada vez mais escolas proporcionando essas coisas aos seus estudantes! Incluem em seu dia a dia o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e entendem sua importância tanto para o aprendizado nas disciplinas curriculares tradicionais e para o desenvolvimento cognitivo quanto para o bem-estar, saúde geral e uma vida mais saudável e feliz.
Algumas escolas no mundo inclusive invertem a lógica tradicional de priorizar a inteligência lógico-matemática e a racionalidade, e dão mais espaço ao autoconhecimento e às inteligências emocional e relacional. A ideia é que a partir do autoconhecimento e da valorização dos interesses pessoais, da autonomia e da autoconfiança, a curiosidade e a vontade de aprender partem naturalmente da própria criança. Desta forma, o aprendizado é vivo e faz sentido, e a pessoa desenvolve a habilidade de encontrar autorealização e conduzir a si mesma em uma vida feliz e significativa.
O psicólogo americano Carl Rogers acreditava que todos os indivíduos têm a capacidade de encontrar dentro de si os mecanismos necessários para buscar o que é melhor para sua vida. Chamou de “tendência a autoatualização” essa força inata que impulsiona ao crescimento e à vida, a tendência a buscar suprir as próprias necessidades, presente em todos os seres vivos.
Quando jovem, Rogers observava as batatas armazenadas no porão da sua casa, um lugar frio e úmido, com pouca luz e quase nenhuma condição de sobrevivência, e via que elas acabavam brotando, mesmo brancas e feias. Ali estava a vida lutando para sobreviver, independente das condições! Mesmo que o processo fosse um pouco doentio, as batatas tentavam viver, se voltando para qualquer réstia de luz que entrava no porão.
O sistema educacional, o meio social e a qualidade das nossas relações, tanto podem servir como o porão das batatas, dificultando nosso aprendizado e crescimento, como também podem ser solo fértil e ensolarado, facilitando e otimizando o desenvolvimento do potencial inato de cada um de nós e o crescimento pessoal e coletivo. Que a escola e nossas relações em geral contribuam cada vez mais para uma educação que apoia a vida!