É sempre melhor fazer pedidos em vez de exigências se queremos cultivar relações duradouras com mais confiança e conexão, seja entre casais, pais e filhos, em equipes de trabalho ou no dia a dia em geral.
O senso comum nos ensina que um pedido precisa ter certo tom de voz, determinada escolha de palavras e uma linguagem corporal específica. Porém às vezes fazemos um pedido desta forma, com todo cuidado e educação, mas recebemos um ‘não’ e então sentimos muita raiva e vontade de revidar. Isso já aconteceu com você?
Quando acontece conosco, nos damos conta de que na verdade o que havíamos feito era uma exigência e não um pedido.
Essa é uma das 25 distinções propostas pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg ao criar a Comunicação Não-Violenta (CNV). Segundo ele, a exigência está ligada à imposição, à culpa, à punição, à vergonha, ao medo. Não importa o tom de voz, os gestos e o uso das palavras, se nossa intenção é impor algo sobre a outra pessoa sem considerar suas necessidades, ou se temos vontade de retaliar, castigar, culpar ou envergonhar o outro caso ele não faça o que queremos, estamos fazendo uma exigência.
Já o pedido, de acordo com Rosenberg, mais do que a maneira de falar, está associado à intenção de cocriação. O pedido envolve a vontade interna de encontrar estratégias e soluções que atendam as necessidades de todos, sem imposições. Não significa simplesmente aceitar o ‘não’, mas a partir deste ‘não’, tentar encontrar conjuntamente outras maneiras que fiquem boas para todo mundo. Significa tentar chegar numa solução GANHA/GANHA, em que todos os envolvidos estejam satisfeitos. Ao contrário da exigência, que implica numa relação GANHA/PERDE, na qual sempre tem alguém insatisfeito.
Duas perguntas podem ser úteis para nos conectarmos ao potencial construtivo do pedido. Uma já trouxemos aqui num texto anterior: “qual é o sim por trás do não?”. Quando alguém diz ‘não‘ para uma proposta nossa, está dizendo ‘sim‘ para si mesmo, para suas necessidades que não serão atendidas se disser ‘sim’. A partir daí, podemos então incluir o que é necessário para que a solução dê conta não apenas do que é importante para mim, mas para os outros também.
A outra pergunta é: “Qual motivo eu quero que o outro tenha para fazer o que estou pedindo?”. Quero que a pessoa obedeça por medo, vergonha, culpa? Ou quero que ela faça porque faz sentido pra ela também?
Em qualquer grupo humano, seja família, organização, etc. as decisões tomadas de maneira inclusiva tendem a contribuir para a sustentabilidade das relações, enquanto a imposição sem consideração a como impacta os outros vai desgastando as relações ao longo do tempo, contribuindo para distanciamentos, ineficiências e rupturas.
O movimento na direção do pedido é uma busca de maior inclusão e sustentabilidade nas relações e, ao mesmo tempo, a compreensão de que não se trata de abrir mão do que é importante para nós, mas apenas encontrar formas de cuidar também do que é importante para os outros.
*Texto originalmente publicado na Revista Bons Fluídos/Viva Saúde. Escrito por Sandra Caselato e Yuri Haasz.