CNV: uma Linguagem da Vida

Tem sido bastante comum pessoas virem em nossos cursos de Comunicação Não-Violenta (CNV) buscando técnicas para aplicar em suas relações, e ficam surpresas ao encontrarem algo muito diferente do que imaginavam. Não as culpamos, pois o subtítulo do livro Comunicação Não-Violenta, de Marshall Rosenberg , seu criador, foi traduzido para o português como “técnicas para aprimorar relacionamentos profissionais e pessoais”. A diferença é gigantesca entre a versão brasileira e o subtítulo original, “Uma linguagem da vida”, pois refletem dois entendimentos muito distintos:

(1) a CNV é algo que se “faz” ou uma “técnica que se aplica”;

(2) a CNV é algo que se “incorpora” na nossa maneira de “ser” e, portanto, se “vive”.

Há um caráter revolucionário e contracorrente nessa mudança de entendimento de que para transformar os desafios que enfrentamos se faz necessária uma mudança de paradigma, e não apenas uma nova ferramenta ou técnica. Essa visão mais sistêmica busca responder às causas-raiz, e não apenas aos sintomas.

Quando se tenta utilizar a CNV simplesmente como uma técnica de manipulação dos outros para que eles façam o que queremos, pode até funcionar algumas vezes, mas a médio e longo prazo desgasta as relações, e contradiz o propósito para o qual foi criada. Seu propósito é nos apoiar a nos conectarmos mais verdadeiramente, com mais compreensão e compaixão com nós mesmos e com as outras pessoas. Este foco na conexão humana resulta numa comunicação mais autêntica e empática e em relações mais sinceras e felizes, com mais confiança e colaboração. Ressignifica os conflitos, ajuda a transformá-los e, além disso, pode influenciar a maneira como tomamos decisões e construímos nossa realidade social conjunta.

A CNV não é, então, um conjunto de técnicas, métodos ou ferramentas, tampouco uma forma específica de falar, mas sim um processo ou prática que nos auxilia a internalizar uma mudança de olhar para nós mesmos e para os outros, uma mudança de compreensão a respeito do ser humano, e uma decorrente transformação na forma de sermos e estarmos no mundo. Conforme praticamos, passamos a enxergar aspectos profundamente humanizadores que não éramos capazes de ver, percebendo as reais motivações e a humanidade por trás das ações e palavras dos outros, e também por trás de nossos próprios sentimentos e pensamentos.

Embora a CNV não seja em si uma técnica, nos utilizamos de certos métodos ou ferramentas que têm uma função parecida com as rodinhas de apoio da bicicleta. Essas técnicas nos ajudam a manter o foco no propósito da CNV, evitando que escorreguemos para padrões de pensamento que nos desconectam de nós mesmos e das outras pessoas. Ao integrarmos esses princípios em nosso modo de ser, já não precisamos mais dessas “rodinhas” e elas até nos atrapalham. Passamos então a viver a Comunicação Não-Violenta e não mais a “aplicá-la” como algo externo a nós mesmos.

Assista a dois vídeos que eu, Sandra, e o Yuri falamos um pouco mais sobre a CNV em nossas vidas:

Yuri Haasz fala sobre a Comunicação Não Violenta (CNV)
Sandra Caselato fala mais sobre a Comunicação Não Violenta (CNV)

Texto originalmente publicado na Revista Bons Fluídos/Viva Saúde, edição 235. Escrito por Sandra Caselato e Yuri Haasz. 

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