Nós viajamos bastante de avião a trabalho e toda vez é dado o aviso: em caso de despressurização da cabine, devemos primeiro pôr a máscara de oxigênio em nós mesmos para depois ajudar os outros. É um protocolo de segurança seguido à risca, pois a tendência é socorrermos primeiro nossos entes queridos, principalmente se nos sentimos responsáveis por eles.
Isso é perigoso pois o tempo que levamos para colocar a máscara na criança ao lado é o suficiente para desmaiarmos e, neste caso, a criança fica sozinha, sem condições de se cuidar. Já se colocamos a máscara primeiro em nós mesmos, ainda que a criança desmaie, podemos tomar todas as providências necessárias para socorrê-la.
Na vida diária é comum termos este mesmo comportamento de priorizar as necessidades dos outros em detrimento das nossas próprias. Isso pode gerar riscos para nossa saúde e felicidade e para a qualidade de nossas relações.
Em nosso trabalho, apoiamos muitas pessoas em seus processos de transformação pessoal e melhoria nos relacionamentos, bem como grupos diversos (empresas, iniciativas sociais, ONGs, escolas, etc.) a se relacionarem de maneira mais colaborativa, sinérgica, horizontal e humana. O trabalho envolve ressignificar crenças, culturas, identidades e às vezes vêm à tona medos, dores profundas e conflitos. Cuidar desses processos demanda muita energia, presença e atenção. Então, nosso autocuidado e bem-estar é essencial para que possamos contribuir da melhor forma.
Nem sempre isso é fácil, pois em nossa cultura o autocuidado é muitas vezes visto como egoísmo, e nos julgamos ao cuidarmos de nós mesmos. Aprendemos que é nosso dever atender outras pessoas primeiro, ainda mais quando precisam de atenção urgente, são mais fracos ou sofrem opressão. Uma possível origem desta dificuldade de cuidarmos de nós mesmos e ao mesmo tempo do outro é o pensamento binário “ou eu ou o outro”, e não percebemos que o autocuidado pode significar cuidar ainda melhor do outro também.
Conhecemos muitas mulheres que, ao cuidar de suas famílias, desconectam-se de si mesmas e se deixam de lado. Ao abrir mão de suas próprias necessidades pelo bem estar dos outros, vivem infelizes, o que resulta ainda na infelicidade das pessoas à sua volta. Muitos homens também aprendem desde crianças que são responsáveis pelo bem-estar e felicidade de sua família. Se sua esposa e filhos estão infelizes, acreditam que a culpa é sua, que são “incompetentes” e estão “falhando como homens”. É comum homens sofrerem doenças cardíacas e pressão alta ainda na idade produtiva por falta de autocuidado.
Então, se deixamos de ver o autocuidado como egoísmo e atendemos nossas necessidades cuidando bem de nós mesmos para que estejamos felizes, temos mais energia, disposição e saúde para apoiar os outros a suprir suas próprias necessidades e ser felizes também. Desta forma, nossa vida e nossas relações se tornam mais prazerosas e saudáveis!
*Texto originalmente publicado na Revista Bons Fluídos/Viva Saúde. Escrito por Sandra Caselato e Yuri Haasz.