Tolerância Tem Limite

Tolerância em excesso pode levar a uma convivência que parece pacífica, enquanto a situação real se agrava, como uma bomba-relógio prestes a explodir.

A tolerância nos convida a flexibilizar nossos limites e enxergar pontos de vista diferentes dos nossos, incluindo respeito, aceitação e apreço pela diversidade. Existe até um Dia Internacional para Tolerância, criado pelas Nações Unidas (ONU) para combater os vários tipos de intolerância: cultural, econômica, religiosa, sexual, racial, etc. A ideia é reconhecer os direitos humanos universais e as liberdades fundamentais de cada um, sem abrir mão de opiniões pessoais, mas aceitando que o outro também tem essa liberdade.

O problema parece surgir quando a tolerância ultrapassa o limite saudável e torna-se concessão e resignação, acreditando que certas coisas não vão mudar e a única solução é aguentar e sofrer em silêncio. 

Quantas vezes toleramos coisas que não são boas para nós? Milhares de mulheres no mundo toleram parceiros abusivos, por exemplo. Em nosso país toleramos em grande medida a corrupção, injustiça social, machismo, racismo, homofobia. Quantas vezes toleramos dores físicas ou emocionais quando, em muitos casos, a mudança de hábitos poderia trazer mais qualidade de vida e satisfação pessoal?

Surge então uma questão importante: qual o limite da tolerância? Dor e desconforto, sejam eles físicos ou mentais, são sinais que nos convidam a prestar atenção em alguma coisa que estamos deixando de cuidar. 

Se algo nos incomoda, em vez de tolerar ou ignorar, o ideal é ampliar o olhar e tentar entender o que há por trás. Com isso, o desconforto talvez desapareça ou surja mais clareza de como agir para transformar o que incomoda, seja fisicamente em nosso próprio corpo, na vida pessoal, na vida profissional ou na sociedade. 

Quando a tolerância é ilimitada, ela pode ter a aparência superficial de convivência pacífica enquanto a situação real é uma bomba-relógio prestes a explodir. Então, criar condições para conversar sobre o que incomoda cada um pode tornar-se uma boa saída para não chegar neste ponto insustentável. 

Um diálogo de escuta profunda e empatia pode ser o início para criar em conjunto novas estratégias que cuidem do que é importante para todos, sem deixar ninguém de lado – nem nós mesmos, nem o outro. 

Para isso, precisamos enxergar além da superfície que nos separa e encontrar lá no fundo o que temos em comum. A maneira mais prática que conhecemos para fazer isso é buscar enxergar os valores ou necessidades humanas universais por trás de qualquer ato ou fala dos outros, e também por trás de nossos próprios desconfortos ou dores. 

Se algo incomoda, em vez de tolerar, experimente ampliar seu olhar e tentar entender o que há por trás. Assim, talvez você tenha mais ideias de como transformar aquilo que dói.

Necessidades Humanas Universais são tudo aquilo que qualquer ser humano em qualquer lugar do mundo precisa para estar bem, como abrigo, alimento, segurança, respeito, liberdade e amor.

Quando conseguimos nos conectar com esses valores universais importantes, fica mais fácil encontrar formas de atender a todas as necessidades e criar ações concretas para viver esses valores no dia a dia e na sociedade, para que seja bom para todos.

Texto de Sandra Caselato e Yuri Haasz publicado originalmente em sua coluna na revista Bons Fluídos

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